sexta-feira, 7 de julho de 2023

SURUBINENSE FOI FIGURA IMPORTANTE PARA SÃO JOÃO DO SABOGI - RN.

 A FAMÍLIA "CAPIBA" E A FILARMÔNICA HONÓRIO MACIEL


“A música é o silêncio em movimento.”

(Fernando Sabino)


          Pernambucano de Surubim, Honório Maciel da Fonseca (Honório Capiba, 1883-1928), fixou-se na região do Seridó, no Rio Grande do Norte, desde 1913, e especificamente em São João do Sabugi a partir de 1924.


          Constituída em grande parte por praticantes da arte musical, agregando a essa forma de sustento outros ganhos, principalmente o comércio, a família Capiba fez um périplo entre Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte, no primeiro quartel do século XX, contribuindo não somente com o processo de surgimento do frevo, através de composições, mas ainda com a sua divulgação. Tal se deu pela migração dos seus membros familiares, motivados por questões políticas ou econômicas, como também pelos contatos entre eles ao longo do século XX.


          Os Capiba de que falamos têm a mesma origem, no século XIX – em Surubim, no agreste do Estado de Pernambuco – mas foram separados por circunstâncias especiais, fazendo-os percorrer diversas localidades pernambucanas, paraibanas e potiguares, por onde ensinaram música e difundiram elementos da cultura que então se forjavam, como o frevo. Alguns ficaram famosos nacionalmente e reconhecidos pelo seu trabalho, como os irmãos compositores Lourenço da Fonseca Barbosa (Capiba, 1904-1997) e José Mariano da Fonseca Barbosa (Marambá, 1896-1968), enquanto outros foram importantes localmente e anônimos em sua música, como José Lourenço da Fonseca (Zé Honório, 1913-2004) e José da Penha Moura da Fonseca (Peinha, 1926-1987).


          Os laços de sangue entre esses dois ramos da família Capiba podem ser assim explicados: Honório Maciel da Fonseca, primeiro regente da banda de música de São João do Sabugi, no Rio Grande do Norte, era tio materno de Lourenço da Fonseca Barbosa, o conhecido compositor Capiba. Além disso, a esposa de Honório Maciel era irmã do pai de Capiba, o que fazia dos filhos do mestre pernambucano primos carnais ou primos irmãos dos conhecidos compositores.


          A relação entre Capiba e os Capiba potiguares parece ter-se dado mormente com José Lourenço da Fonseca, o clarinetista Zé Honório. Tendo estudado em Recife, no Ginásio Osvaldo Cruz, ele manteve amizade com o primo compositor, com quem disputara o amor de uma mesma moça, que ao final “não quis nenhum de nós”.


          A distância entre os primos da família Capiba, os famosos, residentes em Recife-PE, e os anônimos, moradores de São João do Sabugi-RN, foi vencida pelos contatos através de cartas e por raras visitas dos parentes sabugienses à capital pernambucana, perdurando enquanto viveram os quase irmãos. 


          O tronco da família Capiba era o Major Lourenço Xavier da Fonseca, apelidado “Capiba”, “negociante que era de uma loja de fazendas e quinquilharias” em Surubim, no século XIX, pai de Honório Maciel da Fonseca (Honório Capiba) e avô de Lourenço da Fonseca Barbosa (Capiba). 


          Honório Maciel da Fonseca (Honório Capiba) nasceu em 1883, na recém-criada freguesia de São José de Surubim, filho do Major Lourenço Xavier da Fonseca e Maria Landelina Xavier da Fonseca. Seus pais geraram 24 filhos, incluindo Maria Digna, esposa de Severino Atanásio e mãe do compositor Capiba. Um detalhe importante é que Honório Capiba era casado com a paraibana Júlia Moura (1893-1944), irmã de Severino Atanásio, os dois filhos de João de Souza Barbosa e Maria Isabel do Sacramento.


          Honório Maciel fora nomeado para o posto de Capitão-Assistente da 61ª Brigada de Infantaria da Guarda Nacional do Município de Limoeiro, no Estado de Pernambuco, por decreto presidencial de 28 de outubro de 1909, assinado pelo Presidente da República Nilo Peçanha. As informações dão conta de que chegou a ser contramestre de uma banda de música militar, provavelmente vinculada à Guarda Nacional. Os três filhos de Honório Maciel, todos nascidos no Rio Grande do Norte, aprenderam a tradição musical da família, vindo dois a serem regentes em São João do Sabugi, Zé Honório e Peinha.


          Problemas políticos fizeram Honório Capiba sair de Pernambuco. Envolvido nas querelas relacionadas à Campanha Salvacionista de 1911, que levou Dantas Barreto ao poder como Presidente de Pernambuco, ou mesmo fugindo das agitações que tomaram conta daquele Estado nesse período, Honório refugiou-se em Taperoá, na Paraíba, onde foi o primeiro mestre da Banda Lira da Borborema, no ano de 1912 (atualmente, em Taperoá, existe a Orquestra de Frevo Honório Capiba, principal responsável pela animação dos festejos carnavalescos daquele lugar paraibano).


          Em seguida, Honório Capiba também precisou retirar-se da Paraíba, para escapar de problemas maiores, em decorrência do provável envolvimento de parentes seus nas campanhas do advogado e político paraibano Augusto de Santa Cruz Oliveira, conhecido como o “Cangaceiro Doutor”, durante a chamada "Guerra de Doze".


          Em 1913 já se encontrava no povoado de Espírito Santo (hoje Ouro Branco), então município de Jardim do Seridó-RN, onde chegou trazendo uma carta de recomendação de um seu superior, Benedito Santa Cruz, sendo acolhido por pessoas influentes do lugarejo, tais como Coronel Felipe, Geraldo Pires e João Botelho. Enquanto desenvolvia atividades comerciais e ensinava música, aí nasceu o seu primogênito José Lourenço da Fonseca (Zé Honório), em 1913. Na sede municipal, havia-se fixado o seu irmão Cícero Capiba, que o convidou para tomar conta dos negócios, em vista de ser um homem instruído. 


          Após estar em Jardim do Seridó, onde foi regente da Banda de Música Euterpe Jardinense entre 1921 e 1922, Honório Maciel da Fonseca transferiu-se para a povoação de São João do Sabugi, no município de Serra Negra-RN, no ano de 1924, aceitando o convite de José Maria de Souza Lima para reger uma banda de música que idealizava para a terra. A banda de música, a segunda a existir por aqui, veio a ser fundada em 1926, com a denominação de “Banda Coronel Nelson Faria”, então prefeito de Serra Negra, em cuja jurisdição político-administrativa incluía-se o lugar. 


          Com a morte de Honório Maciel da Fonseca, vitimado por paratifo, em São João do Sabugi, no ano de 1928, a banda de música desse lugar foi rebatizada Filarmônica Honório Maciel.


          Em São João do Sabugi nasceram os outros dois filhos de Honório Capiba, José Geraldo da Fonseca e José da Penha Moura da Fonseca, nascidos em 1925 e 1926, respectivamente. Quando rebentou o terceiro filho de Honório, já o primeiro aprendera a tocar instrumentos musicais, especializando-se no clarinete e integrando a primeira formação da filarmônica dirigida por seu pai. José Geraldo e José da Penha (Peinha) foram exímios saxofonistas, ambos chegando a integrarem a mesma instituição artístico-musical, com o primeiro também compondo os quadros da banda do Ginásio Diocesano Seridoense, na década de 1940; e o segundo formando a Jazz Sabugi, orquestra que animava os bailes sabugienses nos anos 1950.


          Em São João do Sabugi, os irmãos Capiba, filhos de Honório Capiba e primos carnais do compositor Capiba, seguiram suas vidas. Os dois, que chegaram a reger a filarmônica com o nome de seu progenitor, se integraram plenamente ao lugar, casaram com moças sabugienses e procriaram em solo sabugiense. 


          José Lourenço da Fonseca (Zé Honório) trocou alianças com Irene Lucena (1913-1988), no ano de 1938, gerando um casal de filhos, Honorinho (1939-1962) e Maria Júlia (1941-1944), pais e filhos já falecidos. José da Penha Moura da Fonseca contraiu núpcias com Eunice de Assis Medeiros (Nicinha, 1926-2002) em 1945, daí advindo uma prole constituída por Maria de Lourdes, Júlia Maria, Mariana e Willame, este último saxofonista como o pai. Desses 04 (quatro) filhos, surgiram 12 (doze) netos, 17 (dezessete) bisnetos e 01 (um) trineto.


          Um bisneto de Honório Capiba, Ivan Cavalcanti Júnior, apesar de não ser músico de formação, desenvolveu gosto musical pelos ritmos populares e coordena, em São João do Sabugi, em parceria com Pirini Rudá Quintanilha de Morais, a entidade Caminhão do Frevo-Caminhão do Forró, que pleiteia o reconhecimento do lugar dos sabugienses como “Capital Potiguar do Frevo”. Tal honraria deverá contribuir para o reforço da identidade cultural dos sabugienses e para a elevação de sua auto-estima enquanto povo produtor de cultura. 


          É preciso nos orgulharmos da presença da família Capiba em nosso seio, valorizando suas relações históricas com os primos famosos e reafirmando o apelido familiar nacionalmente conhecido. Nos lugares onde passou e regeu, Taperoá (na Paraíba) e Jardim do Seridó (no Rio Grande do Norte), Honório Maciel da Fonseca teve o seu nome inscrito na história como Honório Capiba, o que remete diretamente a essa importante família historicamente relacionada às raízes do frevo e da música popular brasileira. 


          Neste nonagenário da principal instituição artístico-cultural de São João do Sabugi, quando se ouvem os ecos do trabalho de Honório Capiba em nossa comunidade, é preciso cantar vivas à família Capiba e à Filarmônica:

          – Longa vida à família Capiba! 

          – Longa vida à Filarmônica Honório Maciel!


“Ó música.

Em tuas profundezas

depositamos nossos corações e almas.

Tu nos ensinaste a ver com os ouvidos

e a ouvir com os corações.”

(Khalil Gibran)


Post scriptum: 

          Desenvolvemos, desde o ano de 2013, trabalho de pesquisa que investiga as relações entre os irmãos compositores Capiba e Marambá e seus primos sabugienses, especialmente Zé Honório, no âmbito dos estudos sobre circularidade cultural, e esperamos poder compartilhar, em publicação, os resultados dessas investigações. As fontes desse estudo são cartas e escritos de família, fotografias, monografias, informações orais, além de livros, incluindo uma autobiografia de Capiba.


(Na imagem, vemos Honório Capiba e sua esposa Júlia, provavelmente na primeira década do século XX. Fotografia em formato “cartão-de-visitas”, do meu acervo particular)


(Texto escrito pelo Prof. João Quintino de Medeiros Filho)

sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

Morre aos 89 anos, o ex-vice-prefeito de Surubim, professor Osvaldo Leal

Faleceu por volta das 13h30 desta quinta-feira (5), de causas naturais, no Hospital São Marcos, em Recife, o ex-vice-prefeito de Surubim, o professor Osvaldo de Sousa Leal, de 89 anos. Osvaldo há vários anos enfrentava problemas decorrentes da doença de Alzheimer. Ele era casado com a também professora Adélia Bastos Leal, com quem tinha quatro filhos.

O professor Osvaldo, como era mais conhecido, nasceu em 25/09/1939, foi Irmão Marista, chegando inclusive a dirigir o Colégio Pio XII, de 1966 a 1969. Ainda em 1969, idealizou a bandeira de Surubim, que foi instituída como símbolo municipal pelo então prefeito Monsenhor Luiz Ferreira Lima.

De 1973 a 1977, foi vice-prefeito do município, na gestão de Dídimo Gonçalves Guerra, o Dr. Jadi e durante 30 dias, entre julho e agosto de 1974 assumiu como prefeito interino. Ao deixar a política, continuou exercendo o magistério. No final da década de 1980, apresentou o programa de notícias, Revista da Cidade, na Rádio Surubim AM.

Após se aposentar em 1996 como professor do Colégio Marista Pio XII, fundou o Movimento Champagnat da Família Marista de Surubim e a partir desta mobilização,  idealizou e liderou a construção da Igreja de São Marcelino Champagnat, no Bairro São José, o primeiro templo no mundo a ser edificado após a canonização do religioso, em 1999. O santuário é semelhante ao da aldeia em que São Marcelino Champagnat  nasceu, Rosey, zona rural de Marlhes, na França. A idéia surgiu na viagem que professor Osvaldo fez com a esposa à Europa para acompanhar a cerimônia de canonização, no Vaticano.

“Osvaldo trouxe fotografias do berço da congregação em Rosey, na França, ele teve a oportunidade de ir, por ocasião da canonização, juntamente com a professora Adélia, fotografou tudo e fez do mesmo jeito em Surubim, só que a de Surubim é três vezes maior do que a de lá que eu também conheço”, afirma o irmão Marista Gerson de Lima, ex-diretor do Colégio Marista Pio XII.

A direção do Colégio Marista Pio XII emitiu uma Nota de Pesar pelo falecimento de Osvaldo Leal destacando a sua passagem pelo educandário como professor, coordenador e diretor. (leia clicando aqui). A prefeita de Surubim, Ana Célia também emitiu Nota de Pesar e decretou luto oficial de três dias.

O velório do professor Osvaldo Leal acontecerá a partir das 8h da manhã desta sexta-feira (6), na Capela do Colégio Marista Pio XII. Às 10h, haverá uma Missa de Corpo Presente e às 15h30, o cortejo sairá para o Cemitério São José, onde ocorrerá o sepultamento.


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