quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

CAPITÃO ANTONIO FARIAS

CONHECENDO SURUBIM: 1900 a 1930 
        Antonio José de Farias, o Capitão Antonio Farias, nasceu em Relva, no distrito de Cabaceiras, Paraíba, em 1866. Em Surubim, casado com Maria Barbosa de Farias, tiveram treze filhos, entre eles, Severino Barbosa de Farias, o seu sucessor.

   O Capitão Antonio Farias foi dono de uma bolandeira, pequena indústria de beneficiamento de algodão, fazendeiro e pecuarista de renome na região: o patriarca da família Farias.

    "No dia 13 de julho de 1922, um acontecimento abalou profundamente os surubinenses: o falecimento de Antonio José de Farias. Um homem de espírito empreendedor e progressista, que muitos e relevantes serviços prestou à Vila de São José do Surubim.

  Qualquer coisa, que se pretendesse, para o benefício de Surubim, ao seu desenvolvimento, era imprescindível o auxílio e concurso do Capitão Antonio Farias. Nada lhe era difícil quando se tratava de atender aqueles que o procuravam. Se os agricultores estavam sem recursos para tratar das suas lavouras, ele ajudava. Se alguma ameaça pairava sobre o pequeno proprietário, ele amparava. E assim trabalhou e viveu esse filho de Surubim, deixando com a sua morte, um grande vazio", Texto do Diário de Dídimo Gonçalves Guerra.


Fonte: Livro Surubim Pela Boca do Povo - Mariza de Surubim - Edição: 1995.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

HÁ 33 ANOS, SURUBIM PERDIA UM GRANDE LÍDER POLÍTICO, EVANDRO CAVALCANTI.


O Martírio de Evandro foi o meu primeiro documentário realizado, em de 1987.


As imagens foram feitas em centenas de cromos (slides), utilizei dezenas de filmes para registrar a nossa história de luta em diversos momentos vividos em Surubim, sempre gostei da fotografia, do seu lado mágico de eternizar nossos momentos, tanto alegres, quanto tristes e esse, com certeza, foi um momento que não desejaria fazê-lo.

Porém, como sempre encarei o meu lado profissional como missão e comunicador social, ao tomar conhecimento do assassinato do nosso saudoso advogado e líder político Evandro Cavalcanti, fui logo registrando através de fotos os momentos de dor e aflição que abateu o nosso povo naquela sombria manhã de sábado, 21 de fevereiro de 1987.

Documentei em slides, porque ainda não possuía uma filmadora, posteriormente transformei em vídeo VHS, para ser usado em reuniões, servindo de reflexão e debate nos movimentos eclesiais, sociais e políticos.

33 anos após sua morte, hoje, as novas gerações tem a oportunidade de conhecer a trajetória do advogado e líder político surubinense, essa é a minha homenagem à memória de Evandro Cavalcanti e a de outros tantos brasileiros, que tombaram por um Brasil socialmente mais justo.

Edvaldo Clemente de Paula.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

O COMÉRCIO E SUAS ATIVIDADES

CONHECENDO SURUBIM: 1900 a 1930 
Agripino Pereira de Arruda e sua esposa Angelina Arruda, foi um empreendedor que impulsionou fortemente o comércio da Vila Surubim.
     "Em 1916, várias firmas comerciais mereciam destaque no comércio daquela época: Dídimo & Natal, Manoel Félix da Costa, José Rodrigues da Costa, Manoel de Sousa Barbosa e José de Sousa Barbosa e outros. Estes comerciantes transacionavam no comércio de TECIDOS com: Albino Amorim e Cia., Guerra e Fernando, Alves de Brito, Leite Bastos e Cia., além de muitas outras que deixo de enumerar.

     Existiam também boas firmas no ramo de ESTIVAS: Manoel Lourenço, Euzébio e outros. Posteriormente chegou Agripino Pereira de Arruda, que além de comerciar no ramo de estivas e ferragens, foi agente da Companhia de Automóveis FORD.
Agripino Arruda, sua esposa Angelina e sobrinhas.  Fotos enviadas para este Blog, por Maria Melo.
     Os comerciantes do ramo de estivas compravam em Limoeiro, que vivia uma época faustosa, sendo centro distribuidor para uma imensa região na qual se incluía Surubim. Lá existiam firmas importantíssimas no ramo, como José Fernandes Salsa e Medeiros Vereda e Cia.
Loja ao lado direito pertencia José Rodrigues da Costa ( Avô da esposa do Vereador Fred ) em seguida a loja de Agripino Arruda ( Hoje no local funciona a Loja Emanuelle, Farmácia de Manipulação e outras lojas ao lado ).

     O comércio de algodão estava muito bem instalado. Existiam em Surubim várias locomóveis e algumas bolandeiras para o beneficiamento de algodão. As firmas mais importantes no ramo eram: Antonio Farias e Cazuza Paulino, na vila. Na zona rural, o velho França da Fazenda Cajá, em Vertentes do Lério, e meu tio Manoel Barbosa, na Fazenda Guaribas, onde conheci uma bolandeira",  recorda Nelson Barbosa. 


Fonte: Livro Surubim Pela Boca do Povo - Mariza de Surubim - Edição: 1995.


segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

JOÃO E A ANTIGA PRAÇA AGAMENON MAGALHÃES

                                
   João Araújo de Lima - "João da Praça" - de terno branco conduzindo o andor.
Seu nome é João Araújo de Lima, mas aqueles que conheceram a antiga Praça Agamenon Magalhães, guardam com carinho um outro que lhe confere o título de jardineiro e amigo das flores.
A praça inicialmente levou o nome de Governador Agamenon Magalhães, mas após a morte do pai do prefeito Nelson Barbosa, mudou o nome para Praça José de Souza Barbosa em homenagem ao seu genitor. Atualmente, a gestão Ana Célia faz reforma na mesma. A geração dos anos 60,70,80 e 90 batizou-a como " Praça do Cinema".
   Faz tempo mas Surubim já teve uma linda praça,toda enfeitada e florida. Uma pracinha com coreto onde a garotada brincava de mocinho e bandido e a Banda Cônego Benigno Lira realizava suas retretas nas tardes de domingo. Tinha caminhos,bancos pra namorar, conversar, fazer fuxico e descansar. Havia muitas dálias, rosas, amélias, papolas e muitas, muitas borboletas. Um lago com  peixinhos  e até  um coitado  de  um jacarezinho, faziam  a alegria da meninada. E para completar o cenário, um pequeno quiosque , onde Manoel vendia guloseimas e café pequeno.

   E quem cuidava de tudo era João. Um jardineiro amoroso que reconhecidamente  recebeu um apelido encantador, que o associa a festa, povo e natureza: João da Praça.

    "Quem construiu aquela praça foi seu Nelson Barbosa, quando era prefeito. Em 1945, eu trabalhava no motor de seu Artur Barbosa. Aí Manoel que tomava conta da praça foi a uma festa e me deixou no seu lugar durante oito dias. Eu não tinha prática, mas tomei aquele gosto: fiz uma limpeza geral, plantei mudas e a praça ficou bonitinha. Aí quando ele voltou não quis mais ficar. Então, eu peguei o emprego e fui jardineiro durante três anos.
                                     
   Começava a trabalhar às sete horas da manhã. Fazia todos os serviços e ficava um pedaço de tempo tocaiando os meninos para eles não fazerem artes.

    E quando podia ajudava no Bar de Severino Tavares.

    Quando deixei a pracinha, fiz outros trabalhos e depois, peguei a vender flores. Faz mais de vinte anos que vivo assim. 

  Trabalho por encomendas: atendendo casamentos, ornamentação de igrejas, andores, aniversários, festas religiosas, velórios e vendo flores na rua. Para ornamentação de igrejas as minhas flores preferidas são gladíolos, celsas, angélicas e carinho de mãe. Margarida é mais para enfeite de casas e também se usa no cemitério. O cravo e as rosas vermelhas e brancas servem pra esse negócio de banho de rezadeira. O povo fala que é pra tirar catimbó, essa coisa ruim que uma pessoa manda fazer para outra, é só tomar banho com água de cravos e dessas rosas que ele se desmancha. Dizem que é assim", conta João da Praça.

   "João era um bom jardineiro. Todo o dia ele estava zelando as flores com muito carinho. Sempre ajudou na igreja, enfeitando o altar e andores para as procissões. O que a gente queria era com ele e com Zezinho. Ainda hoje é assim. Uma criatura muito boa e muito dedicada", conta Severina Costa de Albuquerque, a lna, de Davi.

   "Naquele tempo quase não tinha divertimento em Surubim. Então, nos dias de domingo as moças e os rapazes se arrumavam e ficavam passeando e paquerando na praça.

   João sempre foi católico e trabalha muito pela igreja como decorador e membro da Congregação Mariana", contam Biusa e Severina Sobral de Sousa, a lna.

   "A praça era muito arrumadinha, muito bonita e João cuidava direitinho de tudo. Aos domingos havia diversões e a praça ficava cheia de gente. Ela faz muita falta e deixou muitas saudades", conta Aurélia Cabral Leal.


Fonte: Livro Surubim Pela Boca do Povo - Mariza de Surubim - Edição: 1995.


sábado, 15 de fevereiro de 2020

AS PATENTES DE ANTIGAMENTE EM SURUBIM.

     CONHECENDO SURUBIM: 1900 a 1930 

    Antigamente, era muito comum os homens de posse e prestígio: fazendeiros, pecuaristas e comerciantes comprar ou ganhar patentes de Coronel, Major, Capitão e Tenente. Porém, raro o que recebia a honraria por serviços prestados de acordo com o título.

     Segundo José Lúcio da Fonseca, o seu avô Lourenço Xavier da Fonseca foi tenente da Guarda Nacional por mérito, o mesmo acontecendo, mais tarde, com o seu pai Manoel Clementino Maciel da Fonseca,conhecido por Tenente Lourencinho.

     Os nossos coronéis mais famosos foram Urbano Vieira Carneiro da Cunha, Seu filho Dídimo Carneiro e Periandro Augusto de Miranda.

     Na lembrança dos antigos ficaram os capitães Antonio Farias, Francisco Martins, José Natal e José Alvino. "O homem que combateu e ajudou a prender o cangaceiro Antonio Silvino.

    Com patentes de Major:  Prescilliano da Motta Silveira e Turíbio Severino de Paula. 

     Este,segundo dizem,possuía um orgulho tão grande pela sua patente que só respondia os cumprimentos se o saudassem com o título de Major.




Fonte: Livro Surubim Pela Boca do Povo - Mariza de Surubim - Edição: 1995.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Lenda da Comadre Fulozinha

 

UMA LENDA NORDESTINA.


     O que é

Comadre Fulozinha, ou, em algumas regiões, Mãe da Mata, é uma personagem mitológica da zona da mata de Pernambuco e da Paraíba, no nordeste brasileiro. Muitas vezes a lenda é confundida com a da Caipora, ou considera-se que seja uma variação da mesma, e, em alguns lugares, acredita-se que ambas sejam o mesmo ser.
O nome atribuído à criatura pode ser na verdade "Comadre florzinha", mas devido aos habitantes pronunciarem-no com o típico sotaque do nordeste, acabou sendo mais difundido o "Cumade Fulozinha"

A Comadre também pode assustar quem esteja andando a cavalo na mata e não deixe a oferenda. Ela amarra o rabo e a crina do animal de tal forma que ninguém possa desatar os nós. A ela também são atribuídos "causos" semelhantes contados pelos anciãos das regiões rurais, onde os rabos dos cavalos no estábulo amanhecem amarrados da mesma maneira.
Em algumas regiões do Brasil também é conhecida como uma entidade que protege a floresta[1], daí sua semelhança com a Caipora. Segundo alguns, a mesma não gosta de ser confundida com a Caipora, quem a confundi leva uma surra de urtiga, uma planta que causa muita coceira ou com seus longos cabelos. Até hoje são comuns relatos de pessoas que presenciam suas aparições nas zonas floresta.
No culto da Jurema na Paraíba ela é considerada uma entidade divina e tem caráter.

Aparência e personalidade
Segundo a lenda, Comadre Fulozinha é o espírito de uma cabocla de longos cabelos negros que lhe cobrem o corpo. Ágil, e que vive na mata defendendo animais e plantas contra as investidas dos destruidores da natureza. Gosta de ser agradada com presentes, principalmente mingau, confeitos, fumo e mel. E quando agradada, logo faz que a caça apareça para quem lhe ofereceu o agrado e também permite que este consiga sair da mata.
Tem personalidade zombeteira, algumas vezes malvada, outras vezes prestimosa. Diz-se que corta violentamente com seu cabelo aqueles que a mata adentram sem levar uma quantidade de fumo como oferenda e também lhes enrola a língua. Furtiva, seu assovio se torna mais baixo quanto mais próxima ela estiver, parecendo estar distante. Ela também gosta de fazer tranças e nós em crina e rabo de cavalo, que ninguém consegue desfazer, somente ela, se for agradada com fumo e mel.
Conta a lenda que a Comadre Fulozinha era uma criança que se perdeu na mata quando ainda era pequena, ela procurou o caminho de volta para sua casa mas não achou e acabou morrendo, e seu espírito passou a vagar pela floresta em busca do caminho de volta para casa.[4]

Relatos
Na década de 1930, segundo dona Lourdes Cavalcanti, seu irmão chegou em casa assustado relatando que seu cachorro havia levado uma surra da Comadre. Além disso, existem ainda outras histórias.
A população da zona rural respeita a lenda, e não busca atormentá-la. Em algumas situações, ela atua de forma semelhante ao saci, também fazendo traquinagens como fazer tranças em rabos de cavalo, além de roubar fumo e mel. Como uma forma de disfarçar a sua presença, ela dá um assovio parecendo que está distante, mas quando menos se espera ela chega.

     Filmes
    A lenda da Cumade saiu dos contos para virar filme, uma saga de filmes produzida por Menelau Júnior, uma produção totalmente pernambucana, produzida em Caruaru conta a história da cabocla protetora das matas, atualmente em 4 filmes: 

1:  Cumade Fulozinha,  
2:  A Noite dos Assobios, Cumade Fulozinha 
3:  Cumade Fulozinha 
4:  A Lenda Ressurge. 
    
Vídeos sobre  Comadre Fulozinha no youtube, veja no link abaixo:


COMADRE FULOZINHA

CONHECENDO SURUBIM: 1900 a 1930   

     -  Conte aquela história de Comadre Fulozinha!
     -  Cale a boca menina, não se brinca com coisa séria.

     E Severina Joana, de Capoeira do Milho,cantora de novenas e incelenças, se benze e chama pela Virgem Maria, "mode espantar os maus espíritos".
Contam os camponeses mais antigos, que Comadre Fulozinha é uma mulher pequenina,de cabelos loiros quase arrastando pelo chão,que gosta de fumo, dá pisa em cachorro, faz tranças nas crinas dos cavalos e assobia pelo meio do mato fazendo "homem macho correr  e tremer de medo".

     "A lenda de Comadre Fulô é muito antiga, vem desde o tempo do cativeiro. Lá no mato ela marca as caças. Se foi lambu, corta a unha, se for preá corta a pontinha da orelha. Tem dia que o caçador vai pro mato e caça, mas tem dia que vê a caça e não mata não. É só no dia que ela quer".

      "Desde pequena que escuto falar de Comadre Fulozinha. Uma noite, lá no mato, eu tava lavando os pratos na cozinha e escutei um assobio bem fino. O pifó ( o candeeiro  ) se apagou e eu dei uma carreira medonha".

     "Comadre Fulozinha faz parte da vida da gente. E todo meninote tinha medo. De madru-gada ela aparecia no curral e trançava as crinas dos cavalos, e pra desmanchar, o que era raro, dava um trabalho danado.A gente sabia que era ela por causa do assobio".

     "Eu nunca vi. Mas conheci uma pessoa que disse ter se encontrado com ela fazendo roda no terreiro".

     "Caipora, é a mesma Comadre Fulozinha. Mas quando o sujeito chama ela de caipora leva uma surra de urtiga de lascar".

     "Ela não gosta de religião, é pagã, e tem um medo danado de batismo. E se o cabra diz: Comadre Fulô eu vou lhe batizar, ela zarpa e não aparece mais".

     "Tem casa que Comadre Fulozinha faz marcação. Se a pessoa gosta de cigarro, ela chega escondido e fuma. Se for cachimbo, deixa seco".

     "Comadre Fulozinha não gosta de cachorro. Lá no mato a gente passava alho nos bichos pra ela não dá pisa. De noite, quando eles começavam a latir, a gente sabia que era armada de Comadre Fulozinha".

Fonte: Livro Surubim Pela Boca do Povo - Mariza de Surubim - Edição: 1995.

LEIA MAIS NO LINK ABAIXO:
https://minharuatemmemoria.blogspot.com/2020/02/lenda-da-comadre-fulozinha.html

terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

O CANGAÇO EM SURUBIM

Manuel Batista de Moraes  - "Antonio Silvino". - Foto: Fundação Joaquim Nabuco.
Surubim, cidade agrestina , não teve o infortúnio de se tornar palco de tragédia , com a
participação de cangaceiros.

Lampião vivia mais embrenhado nas caatingas do sertão. Era lá o esconderijo dos cangaceiros.
De forma que, de Surubim , acompanhava-se, de longe, a vida tumultuada daquele perigoso cangaceiro. As suas refregas, nesse e naquele lugar.
Quando se tinha notícia de sua presença em algum lugar mais próximo, era motivo de preocupação de todos. E, porque  não dizer, era motivo de medo.

As mulheres e as crianças ficavam aterrorizadas. A figura de Lampião era , para nós, um espectro de terror.
Não obstante, ficávamos todos fascinados, quando líamos os folhetos dos poetas          populares, exaltando os seus feitos. Aí ele se nos afigurava um herói, o protagonista do

romance.
Eu, particularmente, entusiasmado, lia os folhetos, em voz alta, na última potência. Lia pra mim e para os outros, para os de casa e para os de fora.
Mas o fato é que, como disse, Lampião não chegou a pisar o solo do nosso município.

Quem pisou , por algumas vezes, foi Antonio Silvino.
Este, cangaceiro cuja linha de ação era bem diferente daquele que foi intitulado o "rei do cangaço"
Lampião era perverso, desumano. Parece que era revoltado contra o mundo. Tem-se notícia de algumas de  suas atrocidades, ora praticadas por ele próprio, ora por seus        cabras, como eram chamados. Enquanto que Antonio Silvino, não.
Ele era revoltado, sim, mas era contra as injustiças - as injustiças sociais, as injustiças 
praticadas pelos responsáveis pela Justiça .
A falta de trabalho, a pobreza reinava naquela época, mais do que nunca.
A polícia desatinada abusava do seu poder. E os órgãos da Justiça, impotentes, cruzavam os braços.
Antonio Silvino, naturalmente revoltado contra esse estado de coisas, deu de se marginalizar. Virou cangaceiro.
Já  porque assassinaram o seu  pai, já porque  ele  não tinha natureza de se manter        indiferente a tantas injustiças, a tantas ruindades.
Na falta de Justiça no país, deu de fazê-la com as próprias mãos. Começou por vingar a morte do seu progenitor. Daí por diante; sua vida foi de luta e agitação. Cangaceiro declarado, caiu no desagrado de muitos. Tendo, como inimigo comum, a polícia.
Vivia confiando e desconfiando. Tinha os seus amigos que o acolhiam , é verdade. Mas, dormia com um olho só. Pelo que, sua vida era um desassossego. Até os amigos 
poderiam traí-lo.
Haja vista o que ocorreu com o velho João Batista , tronco da ilustre família Batista , da
região. Costumeiramente, Antonio Silvino e seu bando se hospedavam na fazenda do
Gambar, de propriedade deste último.
A polícia sabendo, ficou na espreita , arranchando-se na quela fazenda, durante dias.
Antonio Silvino, tomando conhecimento da presença da polícia no Gambar, lá não foi , mas passou a suspeitar do ve­lho anfitrião, de quem se tornou até inimigo. Tanto que prometeu castigá-l o com a morte.

Prometeu e foi. Foi a Surubim , onde, na época , morava o Seu João Batista. Que foi ao seu encontro, a seu chamado. Interferiram os homens da cidade. Arranjaram a coisa. dando ao cangaceiro algum dinheiro.
                            
Este local hoje é a praça Dídimo Carneiro - Centro de Surubim -PE. 1930. 
Minha Rua Tem Memória.

Dizem que ele esteve em Surubim por três vezes. Numa das vezes, houve um incidente bastante grave, quase culminando com a morte de um conterrâneo - Rufino. Rufino José de Limeira , era o seu nome. Comerciante na cidade e grande proprietário de terras. Isso foi de 1912 para 1913.
Este, faltando com a obrigação para com o temido cangaceiro, qual seja a de contribuir com uma determinada importância, deixou-o furioso. Não se contendo, mandou buscá-lo. Esperou-o debaixo da velha gameleira, existente em frente do antigo açougue, onde é hoje a casa comercial do Seu José Galdino. ( Atualmente Edifício José Miguel )
- Cadê o dinheiro? 

- Não tenho, respondeu Rufino.
Antonio Silvino, sabendo ter ele o dinheiro contado, deu de sangrá-lo, como se faz com um bode.
                        
Antiga  Vila Surubim - Este local hoje é a praça Dídimo Carneiro - Centro de Surubim -PE.
Década de 20. - Minha Rua Tem Memória.

- Joguem o laço na gameleira, ordenou ele. Atem-no aos pés desse cabra ... Suspendam ... Foi quando chegou o Seu José Natal (há quem diga que foi o Cel. Dídimo Carneiro), 

levantando os braços e alteando a voz. - Pelo amor de Deus não mate o homem, Capitão! 
Se é pela quantia, aqui está, passando-lhe o dinheiro, que teria sido um conto de réis. Foi a salvação. Do contrário, Rufino teria sido sangrado.
Capitão José Natal, pai de Dona Maria José Medeiros, sendo assim, avô do nosso querido amigo professor Luiz Antônio Medeiros. O Capitão também era irmão do primeiro prefeito de Surubim, Coronel Dídimo Carneiro.

Há quem ilustre a história  acrescentando que Rufino advertiu  o seu  protetor de que não lhe pagaria: "Vosmicê  pode deixar fazer o serviço", teria dito ele. Porém, de acordo com informação de Davino Amaro, Rufino acertou com o credor de sua vida.
A última vez que ele esteve na nossa cidade foi com 14 cangaceiros. Dentre eles, Rio 

Preto, Cocada , Baliza , Bibiano, inclusive  surubinenses Antonio de Ney (vulgo
jararaca ) e Tempestade. Porém, se na Vila ele esteve, apenas três vezes, no  município  esteve  muitas vezes.
Em 1908, por exemplo, esteve nas Guaribas hospedado na fazenda  do meu avô, João  Cosme Otaviano Camelo.
Dona Cecília Cabral nos conta que conheceu Antonio Silvino, pessoalmente. Era alto e  bonito, adiantou ela.  E, acima de tudo, um homem  bom. Tanto que ela e suas irmãs, ainda meninas, não tinham medo dele. Tinham medo, sim, da polícia. Andava fardado. Só o chapéu era de couro.
Enquanto que os seus cabras vestiam-se de roupa comum, sempre de chapéu de couro. Uma particularidade, todo o grupo gostava de andar perfumado e trazia os fuzis bem    lubrificados.
Ainda, de acordo com Dona Cecília, ele teria ofendido a uma moça, de nome Sebastiana Biró, filha de Severino Biró.
Assumiu , entretanto , o mal feito, se amasiando com ela, quem lhe dera alguns filhos.


ESCARAMUÇAS E MORTE DE ANTONIO SILVINO

Além, da polícia, ele tinha outros inimigos declarados.
Um deles era Nicácio inspetor  de quarteirão, a quem prometeu liquidá-lo no primeiro encontro.
Liquidou-o, porém, Antonio Silvino. No lugar denomi­nado Trapiá.
Nicácio  atirou primeiro. Não acertando, acer­tou o Antonio Silvino..
Outra proeza fez acontecer em Santa Maria. Alí, quem mandava  era Zé Braz, a quem Antonio Silvino chamava de Zé Carrapato.
Informado  de que o famoso chefe do cangaço se dirigi a Santa Maria, armou-lhe
uma cilada.
Quando já se aproximava das cercanias da vila , Zé Braz mandou um companheiro acenar um lenço branco, em sinal de paz. O lenço estava atado ao cano do rifle.
Dasarmado o espírito do homem, fizeram-lhe fogo. Dessa cilada tomaram parte o Capitão José  Alvino e Zé Patrício, ao lado de Zé Braz.
Não obstante, Antonio Silvino venceu a todos.
De outra feita, no Engenho Figueira, em Orobó, Anto­nio Botijão, que também fazia promessa de liquidar o canga­ceiro mencionado, disparou-lhe um tiro, que, por sorte, to­mou outra direção. Em resposta , Antonio Botijão recebeu uma bala letal , que lhe tirou a vida.
A última escaramuça que teve, foi quando foi preso. Isso se deu no lugar denominado Lagoa Rasa , no hoje município de Vertentes, onde ele se achava acampado, na fazenda de Manuel Mendes.  Estava distraído, jogando sueca, juntamente com uns companheiros, debaixo de um pé de juá.
Veio Zé Patrício, de ponta de pé, ladeado pelo Capitão Zé Alvino. Ao se aproximarem bem , fizeram pontaria e fizeram fogo, baleando-o. Só deu tempo de escapulir-se.
Dizem que alguém o homiziou em casa. Mas, ele, vendo-se muito ferido, preferiu se entregar.
Foi o Delegado Teófanes Torres quem o recebeu preso. Viajaram a cavalo até a cidade de Caruaru. Daí, foram de trem especial até Recife, acompanhados de dois médicos. Isso foi no ano de 1915. Um dos seus cabras, Joaquim de Moura, foragido de Fernando de Noronha, vendo o seu chefe combatido e preso, preferiu o suicídio, dando um tiro em si pró­prio.
Interrogado pelo Juiz que dirigia o processo, disse chamar-se Manuel Batista de Moraes. Acrescentando que Antonio Silvino era apelido. É o que consta no folheto de Leandro Gomes de Barros, intitulado "Antonio Silvino no Jury. Debate do seu Advogado".


Fonte: Livro - Memórias da Terra do Boi Surubim.
Autor: Surubinense, Dr. Antonio Ferreira Cabral. Edição: 2002.

NOTA: Tenho algumas unidades do livro citado à venda.
Whatsaap - (81) 99517 9330 - Tim.


CONHEÇA MAIS SOBRE ANTONIO SILVINO NO LINK ABAIXO:
http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php?option=com_content&view=article&id=329&Itemid=182


COMUNICADO AOS AMIGOS QUE ACOMPANHAM ESSE TRABALHO DE RESGATE E PRESERVAÇÃO DA MEMÓRIA DE SURUBIM.


Amigo, preciso do seu apoio para continuar o trabalho de pesquisas e publicações, quero trazer diariamente para você aqui no Blog Minha Rua Tem Memória assuntos e fotos antigas, contemporâneas e reportagens fotográficas pertinentes à nossa História.

SEJA UM APOIADOR(A) - UM AMIGO(A) DA MEMÓRIA e receba um Certificado Amigos da Memória.

Sinta o orgulho de dizer: EU CURTO E CONTRIBUO COM A MEMÓRIA DE SURUBIM!
Ficarei muito grato em vê seu nome aqui na relação de amigos que valorizam este árduo trabalho que já realizo há 11 anos, gratuitamente para você! Um abraço.

Ficarei muito grato em vê seu nome aqui relação de amigos que valorizam este árduo trabalho que já realizo há 11 anos, gratuitamente para você! Um abraço.

Contas para Depósito/Transferência:
Banco do Brasil
Agência: 0582-7
Conta corrente: 30845-5
Favorecido: Edvaldo Clemente de Paula

Caixa Econômica
Agência.: 1295
Operação: 013
Conta: 26383-4
Favorecido: Edvaldo Clemente de Paula


VEJA NO LINK OS AMIGOS QUE JÁ ESTÃO NA GALERIA DE APOIADORES:
https://minharuatemmemoria.blogspot.com/2020/01/amigos-da-memoria-apoiadores-janeiro.html

Quero ter a honra de vê você aqui também!

Isso será um estímulo para o meu trabalho de poder trazer o melhor para você amigo todos os dias.
O valor da sua contribuição é espontâneo, do tamanho do seu coração e acordo com suas condições.


sábado, 8 de fevereiro de 2020

SURUBINENSE, JUAREZ ARAUJO, FOI UM DOS MELHORES SAXOFONISTAS DO BRASIL.

                                    
JUAREZ ARAÚJO, SAXOFONISTA SURUBINENSE FOI UM DOS MELHORES DO BRASIL.
Nasceu em Surubim no dia 07 de outubro de 1930 - Faleceu em 05 de outubro de 2003 no Rio de Janeiro.

    No intervalo de apenas quinze dias, o Brasil se despediu de dois dos nossos 10 melhores saxofonistas de todos os tempos. Dia 20 de Setembro, aos 80 anos, morreu José de Araújo Oliveira, mais conhecido pela alcunha de Zé Bodega. Dia 5 de Outubro, aos 72, Juarez Assis de Araújo. Ambos pernambucanos e apaixonados por jazz, mas com grande vivência na música brasileira. Partilhavam até o sobrenome Araújo, embora não fossem parentes. Tocaram – em épocas diferentes, obviamente – com Elizeth Cardoso e Roberto Carlos. Foram colegas nas fileiras da Orquestra da Rede Globo, na nem tão longínqua época (os músicos contratados, que se revezavam em três turnos no estúdio Sigla, foram dispensados em meados dos anos 80) em que os maestros da casa eram craques como Cipó (já falecido) e Geraldo Vespar (aposentado). Bons tempos em que as edições das fitas (sim, gravava-se em fitas!) eram feitas na gilete, com precisão cirúrgica, por outro que já partiu, Ieddo Gouveia, livrando-se de ter hoje que se degladiar com programas de edição digital tipo ProTools.

     A única coincidência triste foi a redação das duas notícias de falecimento publicadas no “plantão” do site de um grande jornal carioca. Algo assim: “morreu fulano de tal, um dos maiores músicos brasileiros, que gravou com grandes nomes da MPB, lançou vários discos, tocou em orquestras, bares e casas noturnas”. Que conhecimento, hem? Pelo menos os obituários foram um pouco menos ridículos, e com um pouquinho de informação, embora ainda longe de fazerem jus aos mestres. Artigos? Nem pensar. Desde quando morto paga jabá? E me lembrei da tristeza que senti quando da morte de dois amigos não menos brilhantes, Laurindo Almeida e Milton Banana. Liguei para as redações de dois jornais, falei com pessoas que eu, nos meus últimos momentos de inocência, achava que eram interessadas em música (afinal, gabam-se do título de “críticos”), propus matérias e, claro, nada aconteceu. Lembro da desculpa dada pelo herege para não ter que falar sobre Laurindo: “sei pouco sobre o velhinho”. Coloquei, então, meu arquivo à disposição do elemento, que vaticinou: “não adianta insistir, ele era odiado aqui”. Aqui aonde? Na redação do jornal? No país? Boquiaberto, desliguei e desisti.

     Com Milton Banana foi mais ou menos a mesma coisa, com uma desculpa pior: “ele morreu num dia ruim, no final de semana não fica ninguém da área de cultura na redação, e agora, já passou do ponto”. O morto ou a notícia? Para variar, nos dois casos – Laurindo e Milton – a Tribuna da Imprensa foi o único jornal a publicar extensos artigos sobre suas brilhantes trajetórias. Recebi emocionadas cartas de leitores que guardo com carinho. E fico pasmo ao ver como, após o tal do samba-jazz virar “cult”, e bossa nova virar coisa de gente “antenada” (baratas?), os mesmos boçais que ignoraram Milton e Laurindo em vida e na hora da morte, hoje tecem loas na maior disfarçatez, numa parlapatice que visa demonstrar erudição e, principalmente, garantir a grana do press-release de algum eventual relançamento.

     Sim, porque o mesmo Milton que morreu na miséria, dormindo de favor nos sofás do então reativado Little Club, sem gravadora e sem ver seus discos reeditados em CD, agora conta com diversos títulos recuperados. Neste caso, pelo menos a (falta de) ética que rege os critérios das máfias dos relançamentos, serviu para alguma coisa boa. Neste país tão estranho, cada dia mais abundante em propinodutos, acabamos por torcer que este oportunismo também se manifeste em relação a Bodega e Juarez, pois nenhum deles possui um disco em catálogo.

     No caso de Zé Bodega, que raramente gravou como líder, ao menos uma jóia deveria ser reeditada imediatamente: “Um sax no samba”, lançado pela antiga Continental (cujo acervo pertence à Warner, agora conhecida como “a gravadora da Maria Rita”). Neste LP irretocável, o tenorista se fazia acompanhar pela Orquestra de Severino Araújo (seu irmão), na verdade uma versão ampliada da Tabajara, com direito a Waltel Blanco na guitarra e uma poderosa seção de rítmica comandada por Pedro Sorongo e Jadir de Castro. No cardápio, petardos tipo “Água de beber”, “Amor de janela”, a esquecida “Quero morrer no Carnaval” e a famosa “Palhaçada”. Outro item precioso é o 78rpm gravado com Radamés Gnatalli (piano) e Luciano Perrone (bateria) também na Continental, trazendo o choro “Bate papo” e a valsa “Caminho da saudade”. Os discos de Juarez também virariam sucesso instantâneo nas pistas de dança londrinas se redescobertos. Principalmente “Sua Excelência o sax” (o LP de estréia, em 61, ano da famosa participação no Festival Sul-Americano de Jazz de Punta del Este), “Sax maravilha”, “Saxsambando”, “Bossa nova nos States”, “O inimitável Juarez” e o raríssimo “Bossa nova Brasil - autêntico”, lançado nos EUA pelo selo ABC-Paramount, hoje da Universal.

     Para quem nada conhece sobre as geniais figuras, breves resumos. Zé Bodega começou a tocar sax-tenor aos 15 anos com o pai, José Severino de Araújo, o popular Sasuzinha, mestre-de-banda (alguém sabe hoje o que é isso?) na cidade de Limoeiro, no interior de Pernambuco. Cresceu na vizinha Ingá, na Paraíba. A partir de 45, quando seu irmão, o clarinetista e band-leader Severino Araújo decidiu trazer para o Rio toda a formação original da Tabajara, ingressou na orquestra – ao lado de mais três manos (clarinetista, saxofonista e líder), Plínio (trompetista que virou baterista), Manuel (trombone) e Jaime (sax-alto) – ocupando o posto de líder da seção de saxofones. A partir dali, sua vida e a estória da Tabajara se misturam para sempre, viajando com a orquestra pela Europa nos anos 50, tocando nas principais rádios do Rio (Mayrink Veiga, Nacional e na Tupi, onde aconteceu a histórica “batalha” com a banda de Tommy Dorsey em 51), e nos anos 60 transferindo-se para a TV Rio, até a banda encerrar suas atividades temporariamente em 1970.

     Dentre as dezenas de discos de Bodega com a Tabajara, o primeiro pedido de reedição vai não para os LPs mais antigos, mas para o discaço de 75, na Odeon. Produzido pelo saxofonista Meirelles (outro que amargou tenebroso período no ostracismo até ser “resgatado”, êta termo inglório, pelos mesmos gabolas que o ignoraram durante décadas), reativou a orquestra. No majestoso vinil de inauguração da série “Depoimentos” que durou dois números (mais uma piada sem graça da indústria fonográfica nacional), a orquestra reviveu no lado A seus maiores sucessos (“Espinha de bacalhau”, “Um chorinho em aldeia”, “Saudades do norte”) em arranjos irretocáveis, monumentais, enquanto dedicou o lado B para sambas mais recentes como “Conto de areia” e “No silêncio da madrugada”, tratados de forma igualmente notável. E com mais um detalhe: fantástica qualidade de som, valorizando ainda mais os solos de Zé Bodega no choro-canção (sim, isso existia) “Mirando-te”, no partido-alto “Dente por dente” do campeão Martinho da Vila, e “Se não for por amor”, do patrulhado Benito di Paula. 

Pouco depois, tive o privilégio de ver a Tabajara lotando o Teatro João Caetano nos tempos do Projeto Seis e Meia, de Albino Pinheiro, em 76, estopim para uma redescoberta que desaguou nas famosas domingueiras do Circo Voador. Mas sem Zé Bodega, que depois de gravar com meio mundo – de Martinho da Vila a Gilberto Gil (“Refavela”), de Tim Maia a K-Ximbinho (“Saudades de um clarinete”), de Deodato a Tony Bizarro (“Nesse inverno”) – abandonara subitamente a orquestra nos anos 80, após um concerto em São Paulo. Ovacionado após um solo, passou mal ao ver uma multidão de jovens gritando seu nome, achou que ia ter um ataque cardíaco, e decidiu parar de fazer shows. Ainda assim, continuou gravando desde “Amar prá viver ou morrer de amor”, de Erasmo Carlos (82), ao “Chorinho in concert”, do amigo Zé Menezes, em 95. Se o fato tivesse ocorrido com Juarez Araújo, este teria se divertido à beca. Não se estressava nunca, vivia e tocava rindo, em constante felicidade. Dormia, respirava e se alimentava de música. Este ser iluminado tocou até suas últimas forças se esgotarem, ou seja, até o mês passado, encantando os fiéis fãs em jams na Modern Sound e na Brasserie Europa, em duos com o pianista Paulo Sá.

     Juarez Araújo, nascido na cidade de Surubim, passou por Recife e Natal antes de desembarcar em Sampa, em 45, trabalhando com Clovis Elly e Sylvio Mazzuca. Tocava clarinete, sax soprano e barítono, mas sua preferência era o tenor. Veio para o Rio em 56, ingressando na orquestra de Osvaldo Borba. Nos anos 60, a carreira como líder floresceu através de vários discos, além do trabalho com o Brazilian Jazz Sexteto. Nunca aceitou os convites para morar no exterior – talvez tivesse ficado milionário. Não se encaixava no padrão de “músico de estúdio”, mas gravou e tocou bastante (inclusive liderando a Orquestra Polyfolia) até os anos 80, com Elizeth (“Cantadeira do Amor”), Gal Costa (“Gal tropical”, “Aquarela do Brasil”), e Elba Ramalho (“Flor da Paraíba”). Suas últimas gravações foram com Rabo de Lagartixa (“Quebra-queixo”), Roberto Marques (“Trombone do Brasil”) e Ithamara Koorax, arrasando no clarinete na faixa “Lígia”, do CD “Love dance”, que tive a honra de produzir. Sua sonoridade aveludada e o fraseado refinado chamaram a atenção de críticos como Ira Gitler.

     Também trabalhamos juntos na temporada do quarteto do baterista João Palma no Vinicius Bar, em 1997, filmada para um especial da TV japonesa. Por coincidência, tinha um novo show agendado com Palma para novembro, no Partitura. Superou uma trombose mas não resistiu a um tumor no intestino. Morreu de fato em 5 de outubro de 2003, dois dias antes de completar 73 anos. Mas já havia sido assassinado em 1998 quando a inominável Enciclopédia da Música Brasileira, editada pelo Itaú Cultural, sentenciou em seu verbete: falecido no Rio em 15 de setembro de 1986. Alguns dos músicos presentes ao enterro lembraram do fato, revoltados. Mas, à noite, estavam tocando numa emocionante jam-session no Antonino, organizada para arrecadar fundos para a família. Uma celebração da vida com muito jazz, ao estilo de Juarez Araújo. 

Posted by Arnaldo DeSouteiro at 2:51 PM